Tópicos Especiais em Sociologia IV: Técnicas de Pesquisa Qualitativa de Economias e Vidas Domésticas

Nome da Disciplina:  Tópicos Especiais em Sociologia IV: Técnicas de Pesquisa Qualitativa de Economias e Vidas Domésticas

Professor: André Dumans Guedes

Linha de Pesquisa: Estado, mercado e conflitos

Código da Disciplina: EGH10504

Ano/Semestre: 2024/1

Dia e horário: Quarta-feira, 10h às 13h

Local: Sala 307/ Bloco O

Ementa: O objetivo do curso é apresentar alguns métodos, técnicas e ferramentas para o estudo sociológico e antropológico daquelas situações e casos onde “os processos econômicos”, o “capitalismo”, “a vida material” ou o “mercado” permanecem intrínseca (e problematicamente) entrelaçados às vidas, experiências e relações de pessoas de carne e osso.

Buscamos no curso sugerir encaminhamentos para esse problema colocado na vida de todo pós-graduando: tendo sua formação marcada pelo aprendizado de teorias e pela leitura e interpretação de textos, ela se vê (com frequência, traumaticamente) confrontada com a obrigação de se engajar numa outra prática – a da pesquisa empírica. A despeito de seu direcionamento temático, o curso se pretende assim potencialmente útil a quaisquer estudantes interessados em realizar descrições e análises de subjetividades, perspectivas, valores e moralidades a partir de situações e casos concretos.

Dinâmica do curso: Após as aulas expositivas iniciais, nas sessões seguintes haverá seminários realizados pelos alunos e alunas. Cada um deles deverá escolher um texto presente na bibliografia, e apresentá-lo e discuti-lo com a turma da perspectiva de um pesquisador – ou seja, como alguém que lê um texto não com o objetivo de absorver ideias ou familiarizar-se com teorias e conceitos; mas buscando se inspirar naqueles procedimentos, técnicas e truques que, já se revelando produtivos e interessantes nas mãos de outrem, irão ajudá-lo a encontrar e desenvolver sua própria maneira de trabalhar. Mais do que um problemático “método científico” pensado no singular e a priori, são essas maneiras de trabalhar o que nos interessa aqui.

Sessão 1: apresentação do curso, dos professores e dos alunos

Sessão 2: algumas balizas – moralidades e classificações

WOORTMANN, Klaas. ‘Com parente não se neguceia’: o campesinato como ordem moral. Somente o item 3, p. 28-31 – “ ‘Com parente não se neguceia’ ou ‘Todo comerciante é ladrão’”.

Anuário antropológico, vol. 87, 1990.

DURKHEIM, Émile; MAUSS, Marcel. “Algumas formas primitivas de classificação”. Atenção: ler somente os trechos indicados: Introdução, seção I (pp. 222-241); parte IV (pp. 272-290). Essencial Sociologia / organização e introdução de André Botelho. São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2013.

Complementar:

ZELIZER, Viviana. “Dualidades perigosas”. Mana, volume 15, n. 1, 2009.

Sessão 3: algumas balizas – coisas e valores

STALLYBRASS, Peter. “O casaco de Marx” (pp. 39-86). O Casaco de Marx. Roupas, Memória, Dor. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2012.

MARX, Karl. “Capítulo 1. A mercadoria”. O Capital. São Paulo, Editora Abril, 1993.

Complementar:

KOPYTOFF, Igor. “A biografia cultural das coisas: a mercantilização como processo”. In: Appadurai, Arjun (Org.). A Vida Social das Coisas: as Mercadorias sob uma Perspectiva Cultural. Niterói: Editora da Universidade Federal Fluminense, 2010. p. 89-123.

Sessão 4: algumas balizas – compreensões e vampirizações

MELVILLE, Herman. Moby Dick, ou a Baleia. Capítulo 12, “Biográfico”; Cap. 27, “Cavaleiros e escudeiros (II)”. São Paulo: Cosac Naify, 2008.

WEBER, Max. Capítulo 2, “O ‘espírito’ do capitalismo”. A ética protestante e o ‘espírito’ do capitalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

Complementar:

TSING, Anna. The Mushrooms at the End of the World. On the Possibility of Life in Capitalist Ruins (existe versão em português). Capítulo 4, “Working the Edge”. Princeton University Press, 2015.

Sessões 5 a 15: seminário dos alunos, que deverão escolher na lista abaixo ao menos um texto e um eixo temático para apresentarem em sala de aula

Eixo 1: Mulheres quilombolas e suas casas

PERUTTI, Daniela. Tecer amizade, Habitar o Deserto. Território e Política no Quilombo Magalhães. São Paulo: Edusp, 2022.

CARNEIRO, Ana Cerqueira. O povo parente dos buracos: sistema de proza e mexida de cozinha. Rio de Janeiro: E-papers, 2015.

VIEIRA, Suzane de Alencar. Resistência e Pirraça na Malhada: cosmopolíticas quilombolas no Alto Sertão de Caetité, 2015.

ALVES, Yara de Cássia. (A casa raiz e o vôo de suas folhas: Família, Movimento e Casa entre os moradores de Pinheiro-MG. Dissertação de Mestrado em Antropologia Social. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2016.

PIETRAFESA DE GODOI, Emilia. Devir Quilombola na Terra do Santo: a tessitura de um mundo composto. Rio de Janeiro: Ed. Papéis Selvagens, 2023.

BORGES, Antonádia. “Mulheres e suas casas: reflexões etnográficas a partir do Brasil e da África do Sul”. Cadernos pagu (40), janeiro-junho de 2013:197-227.

Eixo 2: Caçando, pescando, catando, colhendo, coletando, ensacolando e levando para casa

LE GUIN, Ursula.The Carrier Bag Theory of Fiction (1986). In: Dancing at the Edge of the World – Thoughts on Words, Women, Places (1989). Ed. Grove Press. Tradução em português: “A ficção como uma cesta: uma teoria”.

TSING, Anna. The Mushrooms at the End of the World. On the Possibility of Life in Capitalist Ruins (existe versão em português). Capítulo 9, “From gifts to commodities, and back”; Capítulo 10, “Salvage rhytms”. Princeton University Press, 2015.

SAUTCHUK, Carlos. “Pra boia e pra passar: a circulação do peixe nas trocas e no sistema de aviamento” (p. 76-91). O Anzol e a Corda. Técnica e Pessoa na Amazônia. Brasília: Editora da UnB, 2020.

CARSTEN, Janet. “Cooking money: gender and the symbolic transformation of means of exchange in a Malay fishing community”. In: Bloch, Maurice; Parry, Jonathan (orgs). Money and the morality of exchange. Cambridge: Cambridge University Press. pp. 1-31.

HEREDIA, Beatriz. Capítulo 3, “Casa-Roçado” (pp. 48-75). A Morada da Vida. Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisas Sociais: Editora Paz e Terra, 2013 (1979).

Eixo 3: Corres e Correrias nas Metrópoles

FELTRAN, Gabriel. Fronteiras de Tensão. Política e Violência nas Periferias de São Paulo. “Introdução”. São Paulo: Editora Unesp, 2011.

GODOI, Rafael. Fluxos em Cadeia. As Prisões de São Paulo na Virada dos Tempos. Capítulo 5, “As exigências da circulação” (p. 185-231). São Paulo: Boitempo, 2017.

WHYTE, William Foote. “Sobre a evolução de ‘Sociedade de Esquina’ [1993]” (pp. 283,363). Sociedade da Esquina: A estrutura social de uma área urbana pobre e degradada. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor: 2005.

MARTINS, Geovani. Conto “Rolézim”, no livro O Sol Na Cabeça (p. 6-12). São Paulo: Companhia das Letras, 2018.

TORRES, Fernanda. Capítulo 1, “Álvaro”, do livro Fim (p. 7-21). São Paulo: Companhia das Letras, 2014.

Eixo 4: Colonizações, agronegócios e pioneirismos

MARQUES, Ana Claudia. “Pioneiros de Mato Grosso e Pernambuco. Novos e velhos capítulos da colonização do Brasil”. Revista Brasileira de Ciências Sociais, vol. 28 n° 83, outubro/2013.

VIEIRA JR., Itamar. Torto Arado. Capítulos 1, 2, 3 e 7. São Paulo: Editora Todavia, 2019.

MINTZ, Sidney. “A antropologia da produção de plantation,” in Sorj, B., Fernando Henrique Cardoso, and M. Font, eds., Economia e movimentos sociais na América Latina: 145-55.

PALMEIRA, Moacir. Casa e trabalho: nota sobre as relações sociais na plantation tradicional. Contraponto (Rio de Janeiro), v.2, n.2, p.103-114, 1977.

MARTINS, José de Souza. “A vida privada nas áreas de expansão da sociedade brasileira”. In: Novaes, Fernando (org.). História da Vida Privada no Brasil – Contrastes da Intimidade Contemporânea, vol. 4. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

COMERFORD, John. Produzindo moralidades: dilemas, polêmicas e narrativas em terras do “agronegócio”. Em Werneck, Alexandre et al. Pensando bem: estudos de sociologia e antropologia da moral . Rio de Janeiro: Casa da Palavra, p.156-181, 2014

Eixo 5: Comércios e mercados

SILVA, Felipe Evangelista Andrade. Comércio, Mobilidade e Dinheiro. A Busca pela Vida no Plateau Central Haitiano e na Fronteira Dominicana. Capítulo 2, “Através da Fronteira”, pp. 119-173. Tese de Doutorado em Antropologia Social, PPGAS/Museu Nacional, 2019.

MACHADO DA SILVA, Luiz Antônio. Notas sobre pequenos estabelecimentos comerciais. In:

Cavalcanti, Mariana. Motta, Eugênia. Araújo, Marcela. (org.). O mundo popular: trabalho e condições de vida. Rio de Janeiro: Papéis Selvagens, 2018. p. 45-60.

MINTZ, Sidney – “Men, Women and Trade”. Comparative Studies in Society and History. 13 (11), 1971.

BOHANNAN, Paul and DALTON, George. “Introduction”. In: Markets in Africa, Anchor Books, 1965, pp. 1-32.

Eixo 6: O dinheiro “corrompendo” intimidades e casas

ZELIZER, Viviana. Economic Lives. How Culture Shapes Economy. Princeton University Press. Capítulo 10, “The purchase of intimacy”. 2011

MOTTA, Eugênia Motta. «O que faz o dinheiro da casa», Horizontes Antropológicos [Online], 66 | 2023.

DE L’ESTOILE, Benoit. de. Dinheiro é bom, mas um amigo é melhor. Oikonomia na Zona da Mata. Ruris: revista do Centro de Estudos Rurais, Campinas, v. 12, n. 2, p. 211-226, 2020.

ARAÚJO, Marcela. Obras, Casas e Contas. Uma Etnografia de Problemas Domésticos de Trabalhadores Urbanos no Rio de Janeiro. Introdução e Capítulo 1. Tese de doutorado em Sociologia, IESP/UERJ, 2017.

Eixo 7: Cuidados, interdependências, obrigações mútuas

FERGUSON, James. Declarations of Dependence: Labour, Personhood, and Welfare in Southern Africa, Journal of the Royal Anthropological Institute 19(2), June 2023.

GUEDES, André Dumans. “Lidar com o povo, ajudar o povo, falar com o povo: notas sobre o exercício da liderança em um movimento social”. In: Grimberg, Mabel; Ernandez, Marcelo, Marcelo e Manzano, Virginia (orgs.) Antropologia de Tramas Políticas Colectivas. Estudios en Argentina y Brasil. Buenos Aires: Editorial Antropofagía, 2011.

MARCELIN, Louis Herns. A linguagem da casa entre os negros do Recôncavo Baiano, Mana, v. 5, n. 2, p. 31-60, 1999.

ZELIZER, Viviana. Economic Lives. How Culture Shapes Economy. Princeton University Press. Capítulo 13, “Caring everywhere”. 2011

FONSECA, Cláudia. “Prefácio. A importância do olhar etnográfico”. Família, Fofoca e Honra: Etnografia de Relações de Gênero e Violência em Grupos Populares. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2004.

Eixo 8: Força, magia e poder das coisas e objetos

KNOWLES, Caroline. Trajetórias de um chinelo: micro-cenas da globalização. Contemporânea – Revista de Sociologia da UFSCar, 4(2), 2014.

ROTH, Philip. Patrimônio. Capítulo 3, “Eu vou virar um zumbi” (p. 47-64). São Paulo: Companhia de Bolso, 2017.

GUEDES, André Dumans. Construindo e estabilizando casas, pessoas e cidades. Mana, v. 23, n. 3, p. 403-435, 2017.

INGOLD, Tim. 2012. “Trazendo as coisas de volta à vida: emaranhados criativos num mundo de materiais”. Horizontes Antropológicos, 18(37): 24-44.

Eixo 9: Políticas públicas e programas sociais

EGER, Tamara. J.; DAMO, Arlei. S. Money and morality in the Bolsa Família. Vibrant: virtual Brazilian anthropology, Brasília, v. 11, n. 1, p. 250-284, 2014.

BRENNER, Neil; THEODORE, Nik. Cities and the Geographies of “Actually Existing Neoliberalism”. IN: Spaces of Neoliberalism (Urban Restructuring in North America and Western Europe). 2002.

PETTI, Daniela Ramos. “Perdi minha casa, aqui eu tenho outra vida”: uma etnografia sobre espaços, sujeitos e economias em um condomínio popular do PMCMV. Dissertação de mestrado, PPGSA, UFRJ, 2021.

BÁDUE, Ana Flávia. RIBEIRO, Floberta. “Economia do aperto: Bolsa Família, dinheiro e dívida no dia a dia de mulheres paulistanas”. In: Alquimias do parentesco: casas, gentes, papéis, territórios / organização Ana Claudia Duarte Rocha Marques, Natacha Simei Leal. – 1. ed. – Rio de Janeiro : Gramma ; São Paulo : Terceiro Nome, 2018.

CALVACANTI, Mariana. Do barraco à casa: tempo, espaço e valores em uma favela consolidada. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 24, n. 69, p. 69-80, 2009.

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