“A profissão acadêmica, ciência, inovação e poder institucional”
Por Maria Ligia de Oliveira Barbosa *
A carreira de professor universitário é marcada por tensões provenientes da articulação de duas lógicas institucionais distintas que opõem um ideal humboldtiano do trabalho acadêmico às condições de funcionamento das instituições que acabam reduzindo o espaço de decisão e escolha profissional. E os Professores se tornam uma profissão dividida em dois corpos distintos, com valorização muito diferenciada e com resultados e realizações muito diferentes. Para entender isso é necessário discutir os modelos institucionais vigentes no sistema brasileiro de ensino superior.
…
O Acadêmico e o Professor
Como se vê, temos dois modelos de carreira que se associam a dois modelos institucionais de educação superior. O modelo de professor humboldtiano, acadêmico, valoriza a pesquisa científica, sendo o ensino um efeito secundário.
Os professores atuantes no outro tipo institucional encontram um contexto diferente e problemático em algumas dimensões. Eles recebem menor retorno econômico, maior carga didática e uso intensivo de materiais didáticos homogeneizados e digitalizados
…
As transformações econômicas e sociais que abriram espaço para a expansão do sistema de educação superior no Brasil geraram pressões pela inclusão de novos estudantes anteriormente ausentes e por mudanças no funcionamento das instituições desse sistema. a universidade Humboldtiana ideal, inicialmente destinada à elite, começou a enfrentar desafios. A diversificação dos modelos institucionais permite aumentar a oferta educacional, tanto de cursos quanto de formas didáticas. Mas, principalmente, a diversificação impõe mudanças no equilíbrio entre as funções da educação superior. Ganha relevo a função de ensino e isto muda radicalmente as condições do trabalho acadêmico, em especial o trabalho docente.
Os professores-pesquisadores altamente qualificados do modelo tradicional continuam sendo ilhas, mesmo nas instituições do setor público. Foram criadas novas universidades públicas que, formalmente, seguiam o modelo de instituições de pesquisa e, na prática, tornaram-se instituições vocacionais.
Do outro lado, a expansão do setor privado e da educação à distância é muito pouco conhecida da nossa pesquisa sobre o ensino superior. Temos indicações de problemas como baixos salários e uma carga de trabalho superior àquela dos colegas no setor público. Mas o que sabemos sobre a gestão de cursos no setor privado? Sobre o trabalho docente com metodologias didáticas (presenciais e online) inovadoras, que permitem atingir áreas geográficas e pessoas totalmente distintas do padrão dos estudantes no setor público? Ou ainda: sobre a eficiência do ensino no setor privado? E no setor público também?
…
Então: Onde anda a Profissão Acadêmica?
* Maria Ligia de Oliveira Barbosa é Titular da Cátedra Carlos Hasenbalg, do Colégio Brasileiro de Altos Estudos (CBAE/UFRJ), onde coordena os projetos de pesquisa sobre Educação Superior na América Latina (CeLapes). Professora associada da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde coordena o LAPES (Laboratório de Pesquisa em Ensino Superior/UFRJ/CNPq).
** Conheça mais sobre as pesquisas desenvolvidas pela professora Maria Ligia de Oliveira Barbosa em https://www.celapes.org/