Tópicos Especiais em Sociologia VI: Etnografando mobilidades e economias (2021/1)

Professor: André Dumans

Linha de Pesquisa: Linha 2 – Estado, mercados e conflitos

Código da Disciplina: EGH10506

Ano/Semestre: 2021/1

Dia e horário: Quarta-feira, das 14h às 17h

Local: Via Google meet

Ementa:

Esse curso tem o objetivo de auxiliar estudantes de pós-graduação interessados em recorrer à etnografia (ou a procedimentos “etnográficos”) em suas investigações de mestrado e doutorado. Articulado a uma pesquisa coletiva centrada nas práticas e moralidades de ciclistas e motociclistas entregadores de comida, o curso privilegiará o estudo daqueles fenômenos onde as “mobilidades” se cruzam com as “economias”.

Nas sessões iniciais apresentaremos aos alunos as linhas gerais dos debates que estruturaram as discussões a respeito da economia no âmbito da antropologia. Ao mesmo tempo, buscaremos mostrar que, além de sugerir encaminhamentos valiosos para estudos empíricos de variadas ordens, uma leitura interessada dessas obras pode também nos fornecer pistas para a realização de análises etnográficas de mobilidades, circulações e movimentos de pessoas e coisas.

As demais sessões do curso serão dedicadas a questões referentes aos procedimentos concretos de pesquisa, e à etnografia como modo de produção do conhecimento de mestrandos e doutorandos. Aqui, as leituras de trabalhos “exemplares” servirão como ponto de partida para a discussão de uma série de tópicos relacionados às investigações etnográficas: a tensão entre abordagens ideográficas e nomotéticas (ou entre a etnografia e a antropologia, e a etnografia e a sociologia); a estruturação do trabalho de campo; a redação das notas e diários de campo; o contínuo e lento treinamento da sensibilidade, do olhar e do ouvido do etnógrafo; a primazia das categorias e ideias nativas; a valorização das diferenças, das narrativas não-hegemônicas e das linhas de fuga; o (re)aprender a ler e escutar estórias; e atessitura do texto etnográfico.

Formas de Avaliação:

– participação nas discussões em sala de aula

– um trabalho final (preferencialmente associada à pesquisa de pós-graduação sendo realizada pelo aluno).

Planejamento das aulas:

Sessão 1: Apresentação do curso, do programa, do professor e dos alunos

Sessão 2: A invenção da etnografia

MALINOWSKI, Bronislaw. Argonautas do Pacífico Ocidental. “Introdução: Tema, Método e Objetivo desta Pesquisa”. São Paulo: Ubu Editora, 2018.

Complementar

CONRAD, Joseph. O Coração das Trevas (as 10 páginas iniciais). São Paulo: Companhia das Letras, 2008 [1902].

EVANS-PRITCHARD, Edward E. “Algumas reminiscências e reflexões sobre o trabalho de campo”. Em Bruxaria, oráculos e magia entre os Azande. Rio de Janeiro: Zahar Editores. Pp. 298-316, 1978

Sessão 3: Algumas balizas e referências clássicas (I).  Princípios, instituições

MALINOWSKI, Bronislaw. Argonautas do Pacífico Ocidental. Capítulo III, “Características Essenciais do Kula”. São Paulo: Ubu Editora, 2018.

POLANYI, Karl. A Grande Transformação. As Origens de Nossa Época. Capítulo 4, “Sociedades e sistemas econômicos”. Rio de Janeiro: Editora Compus, 2000.

Complementar

MAUSS, Marcel. “Ensaio sobre a dádiva”. Sociologia e Antropologia. São Paulo: Cosac e Naify, 2003.

Sessão 4: Algumas balizas e referências clássicas (II). Da produção à circulação de bens (trocas, mercados, feiras, circuitos, cadeias de interdependência…)

SMITH, Adam. A Riqueza das Nações. Investigação sobre sua Natureza e suas Causas, volume 1. “Capítulo 1. A divisão do trabalho” (pp. 65-72). São Paulo: Nova Cultural, Coleção Os Economistas, 1988.

APPADURAI, Arjun.“Introdução. Mercadorias e políticas de valor”. A Vida Social das Coisas: as Mercadorias sob uma Perspectiva Cultural. Niterói: Eduff, 2008.

Complementar

PALMEIRA, Moacir. “Feira e mudança econômica”. Vibrant – Virtual Brazilian Anthropology, v. 11, n. 1. January to June 2014.

MINTZ, Sidney. “Internal market systems as mechanisms of social articulation”. Proceedings of the Annual Spring Meetings, American Ethnological Society: 20-30, 1959.

TSING, Anna. The Mushrooms at the End of the World. On the Possibility of Life in Capitalist Ruins. Capítulo 9, “From gits to commodities – and back” (pp. 121-128). Princeton University Press, 2015.

Sessão 5: Algumas balizas e referências clássicas (III).  Moralidades e economias

THOMPSON, Edward Palmer. “A economia moral da multidão inglesa no século XVIII”. In: Thompson, E.P. Costumes em Comum. São Paulo: Companhia das Letras, 1991.

Complementar:

WOORTMANN, Klaas. “’Com parente não se neguceia’: o campesinato como ordem moral”. Anuário antropológico, vol. 87, 1990, pp 11-73.

SAHLINS, Marshall. “La pensée bourgeoise. A sociedade ocidental enquanto cultura”. Cultura e Razão Prática. Rio de Janeiro: Zahar, 2003.

Sessão 6: Etnografando movimentos, correrias, lutas – e seus múltiplos sentidos

GUEDES, André Dumans. “Andança, agitação, luta, autonomia, evolução. Sentidos do movimento e da mobilidade”. Ruris, v. 9, n. 1, 2015.

Complementar

FELTRAN, Gabriel. Fronteiras de Tensão. Política e Violência nas Periferias de São Paulo. “Introdução”. São Paulo: Editora Unesp, 2011.

WHYTE, William Foote. “Sobre a evolução de ‘Sociedade de Esquina’ [1993]” (pp. 283,363). Sociedade da Esquina: A estrutura social de uma área urbana pobre e degradada. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor: 2005.

FONSECA, Cláudia. “Prefácio. A importância do olhar etnográfico”. Família, Fofoca e Honra: Etnografia de Relações de Gênero e Violência em Grupos Populares. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2004.

Sessão 7: Saber andar, saber abrir caminhos, saber fazer negócios

SILVA, Felipe Evangelista Andrade. Comércio, Mobilidade e Dinheiro. A Busca pela Vida no Plateau Central Haitiano e na Fronteira Dominicana. Capítulo 2, “Através da Fronteira”, pp. 119-173. Tese de Doutorado em Antropologia Social, PPGAS/Museu Nacional, 2019.

Complementar

RUI, Taniele. Corpos Abjetos: Etnografia em Cenários de Uso e Comércio de Crack. Tese de doutorado em antropologia social, Unicamp, 2012 (capítulos e trechos a definir).

MOTTA, Eugênia. “Houses and Economy in the Favela”. Dossier Ethnographies of economy/ics. Vibrant, Virtual Braz. Anthr. 11 (1), June 2014.

Sessão 8: Desbravadores, aventureiros, pioneiros, colonizadores (e as estórias que esse povo conta)

MELVILLE, Herman. MobyDick, ou a Baleia. Capítulo 1, “Miragens” (pp. 26-31); Cap. 6, “A rua” (pp. 54-55); Cap. 14, “Nantucket” (pp. 82-83); Cap. 20, “Tudo em atividade” (pp. 114-115); Cap. 24, “O defensor” (pp. 126-129); Cap. 26, “Cavaleiros e escudeiros” (pp. 132-135); Cap. 41, “MobyDick” (pp. 200-210). São Paulo: CosacNaify, 2008.

MARQUES, Ana Claudia. “Pioneiros de Mato Grosso e Pernambuco. Novos e velhos capítulos da colonização do Brasil”. Revista Brasileira de Ciências Sociais, vol. 28 n° 83, outubro/2013.

Complementar

INGOLD, Tim. Being Alive. Essays on Movement, Knowledge and Description. Capítulo 13, “Stories Against classification: transport, wayfaring and the integration of knowledge” (pp. 156-164). Nova Iorque: Routledge, 2011 [existe versão em português].

GAGNEBIN, Jeanne. Lembrar, Escrever, Esquecer. “A memória dos mortais: notas para uma definição de cultura a partir de uma leitura da Odisséia”. São Paulo: Editora 34, 2006.

LONDON, Jack. A Estrada. “Confissão” (pp. 25-40). São Paulo: Boitempo, 2008 [1907].

ROSA, Guimarães. “O recado do morro”. No Urubuquaquá, no Pinhém. Rio de Janeiro: José Olympio, 1976.

Sessão 9: Etnografando linhas, movimentos e vidas

INGOLD, Tim. “Trazendo as coisas de volta à vida. Emaranhados criativos num mundo de materiais. Horizontes antropológicos. Porto Alegre, ano 18, n. 37, p. 25-44, jan./jun. 2012.

Complementar:

ANDERSON, Nels. The Hobo. The Sociology of the Homeless Man. “Introduction”, p. v-xxi. Chicago: Phoenix Books, 1963 [1922].

GONÇALVES, Ana Maria. Um Defeito de Cor. Capítulo 1 (pp. 19-64). Rio de Janeiro: Record,2017.

Sessão 10: Motoboys, ciclistas, entregadores de comida

WOODCOCK, Jamie. “O panóptico algorítimo da Deliveroo: mensuração, precariedade e a ilusão do controle”. In: Antunes, Ricardo (organizador). Uberização, Trabalho Digital e Indústria 4.0. São Paulo: Boitempo, 2020.

CANT, Callum. Delivery Fight. A Luta Contra os Patrões sem Rosto. São Paulo: Editora Baderna, 2021 (trechos a selecionar).

Complementar

SCHWEDERSKY, Larissa. Habilidades, Técnicas e Movimento. Uma Abordagem Ecológica dos Ciclo-entregadores de Florianópolis, SC. Dissertação de mestrado em Antropologia Social, UFSC, 2019.

Outros etnografias e referências relevantes, eventualmente podendo ser trabalhados no curso

COMERFORD, John; Ana Carneiro; Graziele Dainese, 2015, Giros Etnográficos em Minas Gerais: conflito, casa, comida, prosa, festa, política e o diabo. Rio de Janeiro, 7 Letras.

COMERFORD, John. “Vigiar e Narrar: sobre formas de observação, narração e julgamentação de movimentações”. Revista de Antropologia, São Paulo, USP, 2014, v. 57, n. 2

FELIX, Gil Almeida. O Caminho do Mundo. Mobilidade Espacial e Condição Camponesa numa Região da Amazônia Oriental. Niterói: Eduff, 2008.

KASPER, Christian Pierre. Habitar a Rua. Tese de Doutorado em Ciências Sociais, Unicamp. 2006.

LIMA, Jacqueline Ferraz de. Mulher Infiel. Etnografia do Amor nas Prisões do PCC. Dissertação de Mestrado em Antropologia Social, UFSCAR, 2016.

PEIRANO, Marisa. “Prefácio a essa edição”. In: Malinowski, B. Argonautas do Pacífico Ocidental. São Paulo: Ubu Editora, 2018.

RUMSTAIN, Ariana. Peões no Trecho. Estratégias de Trabalho e Deslocamento no Mato Grosso. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) – PPGAS/Museu Nacional/UFRJ, Rio de Janeiro, 2009.

THOMAS, William e ZNANIECKI, Florian. The Polish Peasant in Europe and America. New York, Octagon Press: 1974 [1918].

VIEIRA, Suzane de Alencar. Resistência e pirraça na Malhada: cosmopolíticas quilombolas no Alto Sertão de Caetité, Bahia. Tese (Doutorado em Antropologia Social) – PPGAS/Museu Nacional/UFRJ, Rio de Janeiro, 2015

ZELIZER, Viviana. 2011. Economic Lives. How Culture Shapes Economy. Princeton University Press. “Part Five: Circuits of Commerce”, pp. 13-88.

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